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Fundação Fraternidade Judiciária – uma mola no fundo do poço impulsionada por magistrados

         Na semana passada, quem passou pelo corredor do 8ª andar do Fórum João Mendes Júnior viu uma moça sentada em um banquinho chorando e sorrindo ao mesmo tempo. Claro, não dava para entender o que estava acontecendo, mas isso será retratado aqui. Era a agente administrativa Ana Paula da Cruz contando sua história e a salvação de sua vida por meio da Fundação Fraternidade Judiciária, uma mola que a impulsionou a sonhar... a viver. Uma mola no fundo do poço é uma das funções da Fundação Fraternidade Judiciária (FFJ). Quem diz isso são os próprios servidores que conseguiram resolver problemas com o acolhimento da Fundação. Em breves relatos, eles revelam a importância da Fraternidade Judiciária em suas vidas.  Trata-se de um trabalho que somente é possível graças a doações de magistrados de primeiro e segundo graus.

        Ana Paula é mãe de Miguel, atualmente com dez anos. Há três anos, percebendo a gravidade da situação, buscou o apoio da Fraternidade Judiciária. Seu filho tinha sérias dificuldades de aprendizado e já estava na quarta escola. O garoto era muito agressivo e nervoso, um comportamento muito diferente do que tinha em casa. Nessa última escola, a diretora a chamou e falou claramente que a criança necessitava de ajuda. A mãe chorou muito de tristeza, como sempre fazia. Sua condição financeira não era nada fácil; pagava aluguel, estava atolada em dívidas, muitos empréstimos, que nem dinheiro para comer e pagar o transporte para o trabalho tinha. Ela somente tinha o Miguel, e o Miguel a ela. Não podia contar com o apoio de sua mãe, que também passava por dificuldades. Foi o desespero que a levou buscar auxílio na Fundação.

        Em lágrimas, Ana disse que chegou à FFJ com desequilíbrio total, passou pela triagem e a ter assistência social, psicológica e financeira. Assim sua vida começou a mudar e as transformações a acontecer. Ana passou a receber cesta básica e vale-transporte. Seu filho e ela começaram na batalha psicológica. Foi a Fundação que ajudou na avaliação do diagnóstico dele. “Eu já havia passado por vários médicos e alguns diziam que era manha, preguiça de ir à escola. Na verdade ele tem déficit de aprendizagem, um problema no processamento auditivo central.”

        Há três anos Miguel faz acompanhamento psicológico na Fundação todas as segundas-feiras. “Ele vai muito feliz para a terapia, tem um vínculo muito grande com o pessoal da Fraternidade”, afirma ela, sorrindo. “Ele é uma criança maravilhosa, está começando a ler e tem uma letra linda. Diz que será biólogo e é muito apaixonado por todas as espécies de animais. Seus passeios sempre são relacionados à biologia, museus, institutos, zoológicos e aquários.” “Estou muito feliz! Minha vida deu um giro. Estou no terceiro semestre de Direito e a Fraternidade me ajuda com uma bolsa-auxílio. Miguel faz sessões com fonoaudióloga e eu consigo arcar com as despesas dele e com a minha terapia. Ele faz terapia multidisciplinar, acompanhamento pelo Iamspe com otorrino, neuro e pediatra. A Fundação me amparou, busquei ajuda e tive. Sem a Fundação não seria possível”, declara.    

        Segundo Ana, na parte financeira recebeu toda a assessoria necessária. “Começamos a ver as prioridades de pagamento. Há dez anos que eu não via o meu salário, pois os empréstimos caíam no holerite, mas com a ajuda da Fraternidade eu comecei a ver. Aprendi a analisar muito bem ao fazer uma compra. Eu vejo se dá ou não para comprar, tudo tem que estar dentro do meu orçamento. Consegui comprar geladeira, máquina de lavar e TV. Ajudo minha mãe com água e energia porque ela deixou de trabalhar às segundas-feiras para trazer meu filho na psicóloga e cuidar dele.”

        “Quando cheguei à Fundação”, diz, “eu não tinha sonhos, estava perdida, sem rota nenhuma. Fomos acolhidos e hoje somos outras pessoas. Para ser ajudada é preciso ter humildade e aceitar que precisa de ajuda. Agradeço imensamente a todos que colaboram com a Fraternidade, não sei também os nomes dos magistrados que coordenam a Fundação. Tenho uma enorme gratidão e vou levar isso ao resto de minha vida. A Fundação está dando terapia contínua ao meu filho, sem isso o Miguel não conseguiria viver. É a prova de que a Fundação Fraternidade funciona”!

        Outro relato que vale transformar em palavras é o do escrevente Antonio Marcos Dias. “Quando eu estava no fundo do poço financeiramente, fui buscar ajuda e a Fraternidade me deu muito apoio, psicológico e financeiro. A minha autoestima estava baixa. Tive apoio psicológico e assistência financeira. Eu não sabia muito da Fraternidade. Ouvia dizer que alguns juízes e desembargadores colaboram com a Fundação para auxiliar servidores. Então procurei no site do TJSP e fui buscar ajuda, pois eu estava num atoleiro.” Antonio conta que era escravo do banco. Casado há 20 anos e pai de dois filhos, não tinha dinheiro para tomar um sorvete quando o filho pedia... Isso lhe cortava o coração. As compras de supermercado eram feitas com cheque pré-datado. Ele trabalhava para pagar o cheque especial e o valor mínimo da fatura do cartão de crédito. Até mesmo as prestações da casa estavam atrasadas.

        “Ao receber o assessoramento financeiro, a minha primeira medida foi a de quebrar os meus cartões de crédito, também refinanciei o cheque especial e criei uma conta salário para não entrar em tentações”, fala, sorrindo. Para ele, a Fraternidade funciona, sim, mas para quem quer se ajudar. A prova de tudo isso é a sua atual situação. Há dois anos faz acompanhamento na FFJ. Ao procurar ajuda, recebeu cesta básica e auxílio em prestações atrasadas da casa. Hoje trabalha sempre com uma reserva para comprar à vista. Às vezes, quando o produto é mais caro, junta o dinheiro de alguns meses e compra. Não pense que parou por aqui: ele conseguiu administrar o seu dinheiro e suas contas ao receber verbas atrasadas de férias e licenças-prêmio pagas na atual gestão presidencial; não teve dúvida e quitou os seis anos que restavam do financiamento da sua casa. “Minha vida deu uma guinada da noite para o dia. Tenho equilíbrio financeiro e aprendi a gastar de acordo com o que eu ganho. Sei que há muitos servidores com o mesmo problema, mas não procuram ajuda por receio. Brevemente comprarei um carro zero-quilômetro, tudo dentro da minha planilha orçamentária, não posso passar daquilo que está previsto”, conta.

        A história de Deborah De Marco Ridolfi também merece aplausos. Muito emocionada, ela disserta sobre os acontecimentos da sua vida. Mãe de dois filhos pequenos, eles enfrentavam um quadro muito difícil. Suas dívidas começaram quando ainda estava casada. O marido estava desempregado, fato que a levou a assumir todas as despesas domésticas, perdendo o controle da sua vida financeira. Em 2011, por indicação do serviço psicossocial do TJSP, procurou a Fraternidade Judiciária. No início teve muita vergonha, sentia-se incompetente por deixar sua vida chegar àquele ponto. Deborah disse que a dívida era tão alta que ela nem tinha a ideia do montante. Não sabia o que todas suas dívidas representavam no mês, sabia que os empréstimos comprometiam mais que a metade do seu salário e de dois em dois meses recorriam a novos empréstimos – a bola de neve só crescia.

        “Ao chegar à Fundação fui assessorada para pôr numa planilha tudo que eu devia, mas nem mesmo eu sabia, todos os meus gastos e receitas tinham que ser anotadas. Onde mexer? Parecia um jogo que você ia movendo. Foi a primeira vez que enxerguei as contas de uma forma diferente. Como tornar as coisas compatíveis. Eu não sabia quais eram os meus gastos. Foi-me apresentada minha situação financeira e a partir daí vi o quanto precisava mudar.” Deborah assegurou que foi acolhida e assessorada de uma maneira muita simpática e respeitosa. “A vida financeira é algo muito vulnerável, é a vida pessoal de cada um, mas de maneira respeitosa fui orientada. Eles sabem muito bem lidar com os receios da gente. Eu estava precisando desse auxílio e recebi todo o apoio”, diz.

        Ela deixa um recado: “é muito importante divulgar o trabalho da Fundação Fraternidade Judiciária. Sei que há muitas pessoas com o mesmo problema que o meu. A gente chega num momento, num estágio, que é necessário pedir ajuda. Você realmente precisa de ajuda, não consegue seguir sozinha! A partir da assessoria financeira comecei a resolver os meus problemas, direcionando as coisas da minha maneira, mas com o conhecimento que não tinha antes e que foi adquirido na Fraternidade Judiciária”. Deborah afirma que aprendeu a pagar as despesas mensais e liquidou dois empréstimos que ainda restavam, mas que vai verificar a possibilidade de juntar num só para ver se compensa, isso com assessoria da Fraternidade Judiciária.

        A funcionária Marilena Carlos Francisco ressalta que foi pelo trabalho executado pela Fundação que conseguiu a parcial bolsa de estudos que ela conseguiu para sua formação jurídica. Na forma de reembolso, o valor recebido pode ser revertido em livros e cursos. Em 2012, além de terminar seu bacharelado, também pôde prestar com êxito o exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Entretanto, Marilena salienta que não é só isso, “o trabalho exercido pelo atendimento financeiro, onde mês a mês são revistas as contas a pagar, o salário recebido, o que poderá ser feito a médio e longo prazo, proporcionou-me a disciplina, a uma aplicação que nunca antes eu sonhara em ter e a uma poupancinha que, em casos de emergência, eu possa fazer retiradas, sem mexer na aplicação CDB”.     

        A vida dessa funcionária também foi transformada. “Foram eliminados da minha vida o cartão de crédito e o cheque especial, porque são dois grandes vilões do descrédito e do desespero financeiro. Agora, junto o dinheiro e compro as coisas à vista, além de poupar, porque a meta é sair do aluguel e comprar um apartamento. Para isso a senhora Cris da Fundação [carinhosamente chamada assim, referindo-se à educadora financeira Cristiane Regina Perfídio Maeda] me auxilia e dá forças para que os objetivos sejam alcançados. A política da gestão atual do TJSP também auxiliou muito, ao efetuar o pagamento de férias atrasadas e licenças-prêmio.”

        Marilena garante que é possível poupar, “mas poupar com inteligência e com a educação financeira proporcionada pela Fundação Fraternidade Judiciária. Somos recebidas com carinho, mesmo quando está tudo ok. Faço questão de manter mensalmente o atendimento porque é de suma importância a análise de quem entende para orientar onde, como e o com o quê gastarmos. Espero que esse trabalho seja mantido, educando as pessoas que, como eu, não sabiam gastar e se atropelavam em dívidas e montante de juros que assolavam o salário. Agora posso dizer que tenho uma qualidade de vida, com um futuro promissor para objetivos concretos! Obrigada, Fundação, e obrigada, Cris”!, relata.

        Conheça um pouco sobre a Fundação Fraternidade Judiciária (FFJ): a instituição é coordenada por magistrados aposentados que acreditam no trabalho social e buscam contribuir com a qualidade de vida dos servidores do TJSP. No entanto, a Fundação não sobrevive sem a contribuição de anônimos magistrados que doam de forma voluntária com R$ 40 (magistrado de 1º grau) e R$ 65 (magistrado de 2º grau). A Fraternidade é a mola que impulsiona a pessoa a sair do fundo do poço. Ela dá base, com o objetivo de que as pessoas caminhem com suas próprias pernas. Ela pode dar o peixe para matar a fome, mas ela fornece uma vara e ensina o indivíduo a pescar.

        A FFJ surgiu bem antes de o trabalho social virar moda, no final da década de 80, quando ainda não era tão comum como hoje o interesse social.  O TJSP saiu à frente mais uma vez, com a ideia inovadora do então presidente desembargador Nereu César de Moraes e que resultou na Fundação Fraternidade Judiciária. Em 1988, Nereu emitiu uma circular comunicando a criação da Fundação com um departamento jurídico à disposição dos funcionários. Pouco a pouco, o crescimento da demanda fez com que fossem ampliados e diversificados os atendimentos, levando a entidade a evoluir como um todo. Um grupo de magistrados sensibilizados com as necessidades dos funcionários do Poder Judiciário paulista uniu esforços para tentar minimizar as dificuldades.

        Há mais de 20 anos o magistrado José Roberto de Vasconcellos presta serviço voluntário na Fundação, da qual atualmente é o seu presidente. Vasconcelos lembra que o dinheiro doado pelos magistrados reverte ao juízo e à população, pois o funcionário bem atendido nas suas necessidades vai trabalhar bem melhor, evitando afastamentos, licenças ou faltas no trabalho. A Fraternidade contribui com o bem-estar dos servidores do Tribunal de Justiça de São Paulo oferecendo serviços que colaboram no desenvolvimento de seu projeto de vida pessoal e profissional, resgatando a cidadania e a dignidade nas diversas frentes: social, jurídica e financeira, seja de forma educacional ou preventiva.

        São oferecidos serviços em três modalidades: “Departamento Jurídico”, “Departamento Benefício” e “Programa Quali Vida”. No jurídico, o atendimento abrange causas cíveis e família. O funcionário tem de residir na capital e seu vencimento bruto não pode ultrapassar R$ 4.900. Seus integrantes (desembargadores aposentados do TJSP) orientam pessoas sobre questões jurídicas e se encarregam do ajuizamento de ações cíveis e da área de família. Os benefícios se referem à distribuição gratuita de remédios, medicamentos, óculos, aparelhos auditivos, cadeiras de rodas, próteses, cestas básicas de alimentação e limpeza, vale-transporte, fraldas para crianças especiais e dependentes acamados, bolsa de estudos, auxílio-funeral etc.
        O Programa Quali Vida atende o funcionário em três frentes:  Orientação Financeira: orientação sobre orçamento doméstico, planejamento familiar e financeiro através de execução de planilhas orçamentárias, acompanhamento individual e workshops. Terapia Familiar: trabalha questões pessoais, tais como relacionamentos, luto, depressão, autoestima etc. Terapia Infantil: psicodiagnóstico em crianças (para filhos de funcionários de até 17 anos e 11 meses), adolescentes e adultos; orientação profissional para adolescentes; psicoterapia Infantil e orientação de pais.

      Os temas das palestras são os mais variados, desde autoestima, estresse e relaxamento até comunicação no trabalho e, em especial, como lidar com dívidas, pois a falta de administração do orçamento doméstico foi identificada como uma das principais causas de dificuldades financeiras. 

        Os integrantes da diretoria executiva da Fraternidade Judiciária confirmam que, quanto maior a adesão de magistrados para contribuir, tanto maior a possibilidade com o aumento de recursos, a fim de ampliar o atendimento e a qualidade do serviço direcionado aos funcionários. Eles reforçam que há funcionários que faltam porque não têm o dinheiro para o transporte, como foi revelado pelos entrevistados, falando do trabalho de educação financeira realizado pela Fundação.

        Em fevereiro deste ano, o presidente do TJSP, desembargador Ivan Sartori (que visitou a sede da FFJ no final do ano passado); o corregedor-geral da Justiça, José Renato Nalini, e o diretor da Escola Paulista da Magistratura (EPM), Armando Sérgio Prado de Toledo, enviaram e-mails a todos os magistrados explicando as atividades desenvolvidas pela FFJ, demonstrando a importância de angariar mais voluntários para doar uma quantia que poderá ser uma parte da mola na vida de um servidor.

        Conheça mais o trabalho da Fraternidade Judiciária e torne-se um contribuinte. Com apenas uma pequena quantia você pode colaborar para mudar a vida de muita gente. Acesse o site: www.fundacaojudiciaria.org.br ou entre em contato: (11) 3242-2798 / 3107-3349. Todo o trabalho executado pela Fundação Fraternidade Judiciária é muito transparente. Na página, pode ser verificado o balancete, onde o dinheiro foi empregado e os valores recebidos. Confira!

 
        Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no primeiro minuto do primeiro dia de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que – de alguma forma – realizam atividades que se destacam entre os servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, campanhas sociais, no trabalho diário, enfim, qualquer atividade ou ação que o diferencie. Com isso, anônimos ganham vida e são apresentados. Com o projeto “Jus_Social”, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).

        NR: Participe. Envie sugestões de pauta sobre magistrados e servidores do Poder Judiciário para o e-mail da Comunicação Social.

        Comunicação Social TJSP – LV (texto) / LV e AC (fotos)

        imprensatj@tjsp.jus.br

 


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