A Vara do Foro Central de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital, sob a coordenação da juíza Elaine Cristina Monteiro Cavalcante, realizou na sexta-feira (17) a palestra “Grupos reflexivos para homens autores de violência“, com representantes da Organização Não Governamental (ONG) Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.
O evento, que aconteceu no Complexo Judiciário Ministro Mário Guimarães – Fórum Criminal da Barra Funda, abriu a nona edição da campanha nacional Justiça pela Paz em Casa, que terá ações em todo o País versando sobre casos que envolvam violência ou grave ameaça à vida das mulheres.
Na abertura, a juíza auxiliar da Capital Helena Furtado de Albuquerque Cavalcanti explicou como nasceu a ideia do encaminhamento de homens que praticam violência contra a mulher aos programas das entidades que trabalham em parceria com a vara, a exemplo da ONG Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, uma associação que existe desde 2009. “Implementamos a audiência de encaminhamento de agressores, que visa estimular os homens autores de violência a frequentarem os cursos e grupos de reflexão, demonstrando os benefícios oferecidos por essas atividades e, em consequência, melhorar suas relações familiares e afetivas, na busca da redução e extinção da violência contra a mulher”, disse.
Segundo a juíza, a sociedade vive um momento de grandes transformações sociais que compreendem mudanças de valores e o questionamento do antigo modelo patriarcal de dominação do homem sobre a mulher. ”A única forma de modificar comportamentos masculinos machistas aprendidos e reproduzidos durante séculos é por meio da reflexão levada a efeito por grupos que têm o objetivo de desconstruir e mudar os padrões naturalizados de gênero”, comentou.
O primeiro palestrante foi Eurico de Marcos Jardim, bacharel em Matemática e especialista em Educação e Saúde Pública, e coordenador do grupo temático Gênero e Masculinidades, do Consórcio intermunicipal Grande ABC. Ele abordou o conceito de cultura de paz e lembrou que esse tema é discutido desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, passando pela Convenção ONU Mulheres, de 1975, pela Conferência de Pequim, de 1995, e pela Carta da Terra, de 2015, entre outros. “Cultivar a paz é uma iniciativa que apresenta resultados a longo prazo e deve levar em conta os contextos históricos, políticos, econômicos, sociais e culturais da sociedade”, relatou.
Em seguida, fez uso da palavra o psicólogo e coordenador do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, Mateus Amaral Silva. Ele integra o Serviço de Proteção a Vítimas de Violência do Jaçanã, é pós-graduando em terapia familiar do casal, pela Universidade Federal de São Paulo, e atua no grupo reflexivo de homens da ONG, composto de 15 a 20 participantes, encaminhados pela Justiça, que se reúnem com o objetivo de aprender a respeitar os direitos das mulheres. “Quando chegam ao grupo, eles têm uma certa resistência, mas, no decorrer do processo, ampliam seu olhar, seu modo de pensar, mudam o discurso e passam a ser multiplicadores, auxiliando os iniciantes do grupo, repassando suas experiências”, disse.
O último a palestrar foi o doutor em Psicologia da Descolonização Bruno Simões Gonçalves, que trabalha com povos indígenas. Ele ressaltou que a sociedade vive em uma cultura machista e esse comportamento está presente no cotidiano das pessoas, nas mais diversas formas. “Tudo começa na família, depois na escola. A mídia, a internet, a televisão, a moda, a religião, todos reproduzem esses valores”, enfatizou. Ele também afirmou que o grupo reflexivo de homens cria novas ferramentas para cultivar o diálogo e para discutir outras possibilidades de resolução de conflitos.
Estiveram presentes servidores, estudantes, representantes de instituições e organizações não governamentais que atuam na área de prevenção da violência contra a mulher.
Comunicação Social TJSP – VT (Texto)
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