“Por que filosofia?” é tema da aula transmitida para 65 comarcas

        Na manhã desta sexta-feira (26), o Tribunal de Justiça de São Paulo, por meio do Centro de Treinamento e Apoio aos Servidores (Cetra) e do projeto “Aulas Magnas - Curso de Atualização Permanente”, promoveu a aula “Por que filosofia?” com o corregedor-geral da Justiça José Renato Nalini, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), autor de livros e artigos jurídicos. Além do corregedor-geral, a mesa foi composta pelos juízes substitutos de 2º grau, José Maria Câmara Júnior, Gilson Delgado de Miranda e Afonso de Barros Faro Júnior e pelo secretário da Presidência, responsável pelo Cetra, Kauy Carlos Lopérgolo de Aguiar.

        O juiz José Maria Câmara Júnior, ao abrir o evento, disse que a aula seria transmitida para 65 comarcas em todo o Estado. “São 1225 servidores inscritos (867 no interior).”  Na capital, 358 funcionários lotaram os auditórios dos 16º e 17º andares do FJMJ. Entre os magistrados, compareceram os juízes assessores da CGJ, Durval Augusto Rezende Filho e Maria Fernanda de Toledo Rodovalho, Roger Benites Pellicani; as secretárias Lilian Salvador Paula (Planejamento de Recursos Humanos); Rosana Barreira (Magistratura) e Cláudia Braccio Franco Martins, diretora da Corregedoria-Geral da Justiça.

        “Por que filosofia?”... Para o desembargador José Renato Nalini, “todos nós filosofamos. Filosofar é pensar na vida. Se pensarmos na origem da palavra filosofia, que é amizade com sabedoria, concluímos que o filósofo é um amigo da sabedoria. Então, todos nós podemos ser filósofos. Quem aqui não quer ser amigo da sabedoria?” perguntou à plateia. Ele citou sua experiência acadêmica; “eu seguia livros ótimos de filosofia do Direito, como o do professor Miguel Reale, maravilhoso filósofo brasileiro. Ele elaborou a teoria tridimensional do Direito, que diz, o Direito é fato, valor e norma. A questão do valor vai se alterando conforme a história. Por exemplo: o adultério masculino não era considerado como fato relevante, diferentemente de hoje. Só que o professor Reale usava termos complexos”. 
        Segundo o corregedor-geral, os alunos perguntavam o significado das palavras dos textos estudados. “Com o objetivo de tornar mais fácil o assunto, escrevi um livro a fim de motivar os alunos do último ano de Direito, que, achavam a matéria Filosofia do Direito ‘perfumaria’, no entanto, decidi não falar sobre o meu livro”. Como estratégia para provocar a plateia, o desembargador Nalini perguntou: “Quem quer dinheiro? Quer ganhar dinheiro?” Ele mesmo respondeu: “então alugue um espaço na sua testa para a publicidade. A companhia aérea Air New Zeland  pagou U$ 777 dólares para trinta pessoas rasparem a cabeça e usarem uma tatuagem temporária que dizia ‘quer mudar vá conhecer a Nova Zelândia’”.

        Traçando um quadro que existe no mercado americano afirmou, “nos Estados Unidos pode-se  ganhar U$ 7500 dólares quem se dispuser a servir de cobaia humana a medicamentos novos não aprovados. Em Dallas um aluno, do 2º ano do fundamental, pode ganhar U$ 2 dólares por livro que ler, com o objetivo de estimular a leitura. Um obeso pode ganhar U$ 378 dólares se perder 6 kg em 4 meses, pagos por empresas seguradoras”.

        "Há um jogo macabro, que se faz na internet, nos Estados Unidos, desde a década de 90, chamado Bolão da Morte, que consiste numa série de apostas sobre quando celebridades idosas ou enfermas vão morrer. Os jornais alimentam essa indústria noticiando quem foi internado, quem foi ao médico etc. Os prêmios maiores vão para quem acerta o inesperado, como, por exemplo, que a lady Diana iria morrer, ou a Amy Winehouse.” Após apresentar esse quadro atual em nossa sociedade, citou o livro 'O que o dinheiro não compra – os limites morais do mercado', de Michael J. Sandel, que questiona: “queremos uma sociedade onde tudo esteja à venda? Ou,  há um limite ético, há coisas intangíveis que não podemos comercializar”. Esse é o papel da filosofia, levar à reflexão.

        O corregedor indicou algumas obras para os que pretendem ter um primeiro contato com a filosofia. Segundo ele, os franceses são os mais provocativos, como Luc Ferry autor de 'Aprender a viver: tratado de filosofia para uso das jovens gerações'. "O livro, que coloca em contraponto a religião, é resultado de um desafio; amigos propuseram a ele que escrevesse sobre o que é filosofia e para que ela serve, sem que usasse citações, bibliografias." Outras indicações são: 'O mundo de Sofia', de Jostein Gaarder; 'Mais Platão, menos Prozac', de Lou Marinoff.

        “Chegamos a uma parte importante da filosofia, chamada ética”, disse Nalini. Segundo ele, “a ética é a parte prática da filosofia, nos ensina a ser melhor, tornar a vida mais agradável, tornar o ser humano mais adequado ao convívio harmônico.” Para ele todos aqueles que indicam uma vereda para nos tornarmos melhores são filósofos: Kardec, Chico Xavier, Confúcio. Como uma homenagem à filosofia oriental citou Confúcio (551-479 a.C.), “o homem de boa formação sente-se à vontade sem ser arrogante; o homem inferior é arrogante sem se sentir à vontade”. Também citou vários autores como Heráclito, filósofo da contradição, “viver de morte, morrer de vida”, que inspirou Mark Twain; Sócrates, “só sei que nada sei”, “conhece-te a ti mesmo”; Platão, “o mito da caverna”; Montaigne, Pascal, Diógenes, Nietzsche e Voltaire. “Os filósofos conseguiram traduzir com palavras o que lhes ía pela alma”, destacou. “Escrever é uma terapia maravilhosa”, disse. "Todos deveríamos ter um diário para expor nossas angústias, sofrimentos, mas também sonhos e projetos. Pensemos, reflitamos, escrevamos, ousemos nos mostrar, nem que seja para nós mesmos. Essa é a busca perseverante pela sabedoria."

 

        Comunicação Social TJSP – VG (texto) / GD (fotos)

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