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Esporte ajuda magistrados paulistas em sua missão de fazer justiça

       Nem só a toga faz parte das vestes de um magistrado. Entre os dois mil juízes paulistas que atuam nas 1385 varas do Tribunal de Justiça de São Paulo, cuidando dos mais de 19 milhões de processos existentes, num trabalho árduo na luta para levar a Justiça a cada cidadão, alguns buscam na arte marcial a serenidade e o equilíbrio para exercer a arte da magistratura.  

        Segundo nossos entrevistados, a arte marcial é um esporte que contribui e muito para a melhoria pessoal e profissional, promove o equilíbrio e traz serenidade. 

        Hoje vamos apresentar dois juízes, um que atua na capital e outro no interior, José Augusto Nardy Marzagão (fórum de Santana) que pratica Jiu-Jitsu e Ricardo Domingos Rinhel (Franca) que luta judô. Ambos levam o esporte muito a sério, tanto que já conquistaram diversos troféus e medalhas.  



        José Augusto Nardy Marzagão - tinha seis anos quando começou a fazer judô, mas parou aos 16 anos. Em 1998, ao ingressar na magistratura conheceu o juiz Antonio Augusto Galvão de França Hristov (atualmente em Itapecerica da Serra) que o incentivou a praticar Jiu-Jitsu. Inicialmente, Marzagão tinha preconceito em relação a essa arte marcial, pois a imagem que tinha a associava à violência. Entretanto, Hristov provou ao amigo que estava equivocado e que a filosofia do jiu-jitsu estava longe, muito longe, da violência. “Considero como meu primeiro mestre o Antonio Augusto, meu grande amigo. Sou até suspeito em falar algo dele porque o admiro muito, mas foi ele quem me tirou o preconceito e me mostrou o outro lado do jiu-jitsu. Posso dizer que ele tem grande parcela nas minhas conquistas. Se não fosse ele eu não teria começado a praticar o jiu-jitsu." 

       “Eu tinha uma certa resistência porque na época o jiu- jitsu ainda não era bem visto pela sociedade. Alguns jovens praticavam esse esporte e o utilizavam para brigar na rua, mas o Antonio Augusto me falava de outra forma dessa arte marcial; falava da filosofia, então eu aceitei e comecei a treinar. Percebi que não tinha qualquer ligação com pessoas violentas, ao contrário, o que menos se usa no jiu-jitsu é a força, tanto é que a tradução da palavra jiu-jitsu é ‘arte suave’. Você usa a força do seu oponente, do seu adversário, sem usar sua própria força física e para isso você tem que ter um bom preparo físico para lutar. Caiu o mito de que esse esporte é uma arte marcial violenta”, declara Marzagão. 

        Hristov incentivou Marzagão a competir e em 2002 e 2003 foi campeão paulista. Uma lesão no braço fez com que parasse por um tempo, depois voltou a treinar, mas sem participar de competições. Eles foram trabalhar em locais diversos, mas não deixou de treinar com outros mestres e amizade deles continuou, tanto é que Hristov é padrinho de batismo do filho de Marzagão - ou seja, viraram compadres.  

        O mestre atual de Marzagão, Fernando Lima, o incentivou a voltar competir. Assim, começou um treinamento mais intenso e adotou uma alimentação mais regrada em busca de um melhor condicionamento físico. Depois de muitos anos sem competir, em dezembro passado ele competiu em Pouso Alegre. “Tive um desempenho legal e ganhei. Isso me incentivou a continuar competindo.”  

        Em julho deste ano ele conquistou o mundial de jiu-jitsu. Foi um ano e meio de treinamento. Para ele, foi difícil conciliar o tempo entre suas atividades como magistrado, convívio com a família e treino. "Mas é perfeitamente possível", diz. Um mês antes dessa competição, o juiz sofreu uma lesão na mão e teve que imobilizá-la para lutar. Durante o combate, o treinador de seu adversário gritava para que lhe apertasse a mão, segundo ele o adversário apertou no local que não doía. “Uma lesão ou outra pode ocorrer porque o jiu-jitsu é um esporte de contato, mas não machuca como em outros esportes”, afirma Marzagão.  

        A próxima competição em vista é o Panamericano de outubro, em Brasília, mas no momento ele está cuidando de uma lesão no joelho. Se tudo estiver bem, lá vai o magistrado 'de toga branca' para o tatame. Além do Mundial, em seu currículo esportivo incluem premiações em circuitos paulistas, campeonato regionais e alguns de cidades menores. 

        No entanto, Marzagão ressalta que o importante não é a competição. O importante é manter a prática do esporte, não parar de treinar. “Faço propaganda desse esporte porque ele nos traz muitos benefícios, me ajuda muito na minha atuação como juiz. O jiu-jitsu traz uma tranquilidade muito grande que ajuda no nosso cotidiano, que é turbulento, tem muita pressão. Nos traz serenidade que conseguimos levar para o ambiente de trabalho. A paz de espírito é muito grande. Tudo isso é muito importante para o nosso dia-a-dia." 



        Como foi

        “Quando conto minha história (risos), ela não é politicamente correta, percebe-se a curiosidade da vida. Durante todo meu colegial eu estava voltado a fazer engenharia mecânica. Fiz o vestibular para o curso e entrei para o Exército. No meio do ano passei para a federal de Itajubá, mas o exército não me liberou, só com transferência, o que seria muito prejudicial. Resolvi deixar de lado, para o próximo ano.  Ao começar as aulas de Direito no Exército, comecei a pegar gosto, ter um apreço melhor pelas normas, leis e então mudei e resolvi fazer Direito. Eu me encontrei na área jurídica, nunca tive ninguém que me incentivasse a fazer Direito, apesar de ter familiares na área jurídica. 

        Outra coisa também é curiosa: era para eu ser promotor, fiz estágio por muito tempo na Promotoria, eu só tinha visão de como era ser promotor, não tinha a visão do lado da magistratura. Quando me formei e comecei a advogar, a fazer audiências e ver o lado do magistrado, isso me encantou, encantou mesmo! Percebi que a promotoria não era para mim, eu seria um promotor frustrado e comecei a estudar, e muito, para a magistratura. Acho belíssima a atuação do promotor, mas me encontrei na magistratura! 

        Um dia encontrei com o major Ramalho – atualmente está no Rio de Janeiro – aquele que não me liberou do Exército para estudar Engenharia. Ele me parabenizou pelo ingresso na Magistratura e eu o agradeci pelo que fez; ele alterou o rumo da minha vida. Sou muito feliz na magistratura!" 



        Ricardo Domingos Rinhel - pratica judô desde os cinco anos de idade. Para ele, o judô, além da disciplina e condicionamento físico, ensina ao praticante várias lições de vida. “São diversos os valores repassados pelos meus professores Beirigo, Pedro e Plínio, como a solidariedade, humildade, companheirismo e perseverança.”  

       Rinhel também já participou de várias competições, inclusive fora do país. Conquistou algumas medalhas e troféus, mas, segundo ele, o maior prêmio são os amigos e experiências adquiridas.

       O juiz está engajado em um projeto na cidade de Batatais, que oferece aulas de judô a crianças e adolescentes carentes do município. Ele faz parte de uma equipe que auxilia voluntariamente o 'Projeto Judô Batatais'.  Dedica 1h30 por duas noites, durante a semana, e  duas horas da tarde do sábado como professor. A colheita do projeto já está rendendo excelentes frutos, inclusive  em competições. 

        A iniciativa é o resultado de uma parceria entre a Associação Batataense de Judô e a Prefeitura, que tem como objetivo educar por meio do judô.  

        Segundo o magistrado, o projeto surgiu numa reunião com os demais integrantes da Associação Batataense de Judô quando veio a ideia de compartilhar os benefícios do esporte com a população de Batatais. Dessa forma, com a ajuda do secretário de esporte local, Antônio Carlos, a ideia foi submetida à apreciação do prefeito José Luís, que prontamente a acolheu. 

        Rinhel fala da importância do esporte na formação dos cidadãos e afirma que a base teórica do 'Projeto Judô Batatais' partiu de um estudo do professor Plínio Ricardo Carloto voltado ao contexto da prática esportiva no cenário do município, tendo como referencial o processo histórico de formação de atletas e cidadãos, com a necessidade de realizar ações imediatas que favorecessem a inclusão social, promoção da qualidade de vida e autovalorização do ser humano por meio do esporte. Assim, vem a transformação de atitudes, possibilitando ao praticante uma formação integral como pessoa e atleta.  

        O juiz enfatiza que como o Judô é o “Esporte Educação”, o acompanhamento escolar dos participantes é constante, servindo como critério para participação em competições e promoção de faixa (graduação no judô). Salienta que nas avaliações não se faz comparação entre os alunos. O estímulo é para que eles superem seus próprios limites e medos. 

        O sucesso do projeto é notório. A meta inicial, que  era atender 100 pessoas, logo no primeiro mês foi superada, e já há até lista de espera. “Em razão da grande adesão, estamos planejando para o próximo ano a ampliação do 'Projeto Judô Batatais'; mas isso depende da anuência e colaboração da prefeitura, parceira da Associação Batataense de Judô. Pensamos, também, para um futuro próximo, desenvolver aulas para pessoas portadoras de necessidades especiais, o que ampliaria o leque de beneficiários.” 

        Rinhel disse que, respeitadas as devidas proporcionalidades, a atividade, tanto no tatame como no exercício da magistratura exige, igualmente, disciplina, concentração e equilíbrio. Segundo ele, na magistratura como no judô, o treinamento/atualização deve ser constante, objetivando acompanhar a evolução legislativa e social. 

        Seus objetivos são,  na profissão, o aprimoramento constante para melhor atender à população e, no aspecto social,  pretende continuar os trabalhos no 'Projeto Judô Batatais'. “O esporte em geral é essencial na vida das crianças e adolescentes. Além de fazer bem à saúde, o esporte desenvolve o convívio social. Aprendemos a conviver e aceitar as diferenças, e isso é essencial para a vida”, conclui Rinhel. 



        Como foi 

        
“Quando criança meu sonho era ser atleta. Comecei a pensar na profissão, como a maior parte dos adolescentes. Com a proximidade do vestibular, escolhi o Direito por influência do meu pai, Domingos Rinhel, que acabara de concluir esse curso. Logo no primeiro ano de faculdade realizei estágio com os doutores Ariovaldo e Rubens, tomando realmente gosto pelo Direito. A partir do segundo ano decidi que queria ser juiz e comecei a estudar pra valer. No terceiro ano ingressei como estagiário voluntário da Magistratura, com o juiz  Rafael Infante Faleiros, ocasião em que confirmei minha vocação”, finaliza. 



        NR1: No último dia de cada mês, o GACS publica notícia diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. 

        NR2: Participe. Envie sugestões de pauta sobre magistrados e servidores do Poder Judiciário para o e-mail da Comunicação Social. 



       Comunicação Social TJSP – (LV) texto /  LV (fotos Marzagão) / Arquivo pessoal (fotos Rinhel) 

       imprensatj@tjsp.jus.br


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