Nos bastidores da inovação: as histórias por trás do eproc no TJSP
Projeto conta com envolvimento de todas as secretarias.
Há um mês, o Tribunal de Justiça de São Paulo deu início à implantação do eproc, novo sistema judicial informatizado. O primeiro ciclo da transição abrange as competências do Juizado Especial Cível, Colégio Recursal (turmas cíveis) e Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejuscs) – veja o cronograma. Em 31 de março, as varas do JEC dos Foros Regionais do Butantã e do Tatuapé, na Capital, foram as primeiras a receber o eproc e, desde então, já são mais de 8 mil processos distribuídos, 16 mil usuários internos impactados na área judiciária e 56 mil advogados cadastrados.
Os números impressionam e refletem a dimensão de uma transformação que vai além da troca de sistemas. Mais do que tecnologia, o eproc é o resultado de uma construção coletiva, desenvolvida integralmente por equipes internas do TJSP, com o apoio dos tribunais orientadores: Tribunal Regional Federal da 4ª Região e os Tribunais de Justiça de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
O sucesso da implantação é fruto de um trabalho estruturado de planejamento e governança que começou muito antes, ainda em julho de 2024, logo após o anúncio da adesão ao eproc. Equipes de diversas áreas do TJSP se mobilizaram em um esforço conjunto para assegurar uma transição segura e eficiente, com a criação de 19 frentes de trabalho, participação de 240 pessoas e mais de 600 horas de reuniões.
Embora seja natural associar a transição de sistemas à área de Tecnologia da Informação, o eproc é uma iniciativa transversal, que envolve toda a estrutura administrativa do Tribunal. E, ainda que seus avanços tecnológicos — como maior agilidade, estabilidade e automação de tarefas — sejam o destaque, esta história é, acima de tudo, sobre pessoas. Sobre o empenho e o compromisso de tantos profissionais que trabalham para oferecer uma Justiça mais célere e acessível aos brasileiros de São Paulo.
Para mostrar o protagonismo dos servidores nessa conquista, a matéria especial do DJE reúne histórias de 12 personagens que representam as secretarias e alguns setores envolvidos na implantação do sistema. Cada um simboliza o trabalho de muitas mãos que, juntas, tornam possível essa importante evolução. São histórias que mostram como a inovação tecnológica no TJSP é, acima de tudo, uma conquista humana, feita por quem conhece de perto a realidade da nossa Justiça.
Secretaria de Governança de Sistemas (SGS)
A bússola do eproc
A mais nova secretaria do Tribunal chegou com uma missão importante: garantir que a transição para o novo sistema aconteça de forma segura, organizada e afinada com os padrões da comunidade eproc. A equipe de 52 servidores acompanha cada etapa do trabalho, recebe demandas, propõe soluções e ajuda a pavimentar o caminho para uma mudança tecnológica conectada à realidade do Judiciário.
Bruno dos Santos Ferrão Amaro Lobosque Erwenne é um dos servidores que representa essa construção. No TJSP desde 2019, passou por comarcas da Grande São Paulo e integrou a Corregedoria Geral da Justiça, onde apoiava unidades cartorárias na adoção de boas práticas. Seu perfil curioso e atento a novas formas de trabalho o levou à coordenadoria que deu origem à SGS. “É uma alegria estar desde o primeiro dia no projeto. Sinto que estamos construindo algo duradouro, feito por servidores para atender às necessidades dos públicos interno e externo”, conta. Hoje, como coordenador de Governança, é responsável pela curadoria da base de conhecimento do sistema e pelo mapeamento de inovações úteis para os tribunais que utilizam o eproc.
Secretaria de Tecnologia da Informação (STI)
Construindo a base da transformação
A STI é a espinha dorsal do projeto eproc. Por trás da implantação do novo sistema, está uma equipe que assegura a infraestrutura, a segurança da informação, o desenvolvimento de portais e todo o arcabouço técnico dos contratos e convênios da área. A STI viabiliza a mudança que promete transformar a Justiça paulista. Um dos servidores que representa esse esforço coletivo é Leonardo Teixeira Akaoshi, supervisor na área de Sistemas Judiciais e um dos rostos por trás da implementação do eproc.
No TJSP desde 2016, Leonardo começou na Secretaria da Primeira Instância, trabalhando com fluxos de processos no sistema eletrônico. Movido pelo interesse em tecnologia, trocou o curso de Direito pela graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Está no projeto eproc desde os primeiros testes e abraçou a transição digital. Hoje, lidera uma equipe reforçada por novos profissionais contratados. Segundo ele, o sucesso no trabalho também se deve ao apoio da comunidade eproc e à colaboração dos tribunais orientadores, que compartilharam experiências e soluções. “É gratificante perceber que aquilo que fazemos aqui, lá na ponta impactará milhões de pessoas positivamente, com a agilidade no andamento processual”, afirma.
Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP)
Ensinar como missão, transformar como meta
Desde os 15 anos, Hudson Carvalho de Camargo já tinha uma paixão: ensinar. Nessa idade já era professor de inglês, depois desenvolveu apostilas para uma franquia de escolas de idiomas e, até hoje, segue dando aulas aos sábados. Essa vocação atravessou décadas e encontrou morada no TJSP, onde, desde 2018, leva sua paixão por capacitação aos cerca de 40 mil servidores. Diretor na Secretaria de Gestão de Pessoas, é formado em Direito e acumula cinco especializações, entre elas tutoria em educação a distância, gestão de pessoas e gestão de projetos — bagagem essencial para enfrentar o desafio da implantação do eproc na sua área.
Hudson conta com uma equipe de 44 servidores. Uma parte desses profissionais se dedicou à criação de 19 cursos sobre o novo sistema, que já somam mais de 21 mil inscrições. Foi também convidado a liderar o desenvolvimento do novo portal nacional de capacitação do eproc, que reunirá materiais para todos os tribunais da comunidade. “Desenhei uma corrida contra o tempo. Ao mesmo tempo em que aprendemos, precisamos ensinar com qualidade e agilidade. E a ajuda do TJSC e TJRS foi essencial”, explica. Na SGP, o trabalho vai além: a chegada do eproc impulsiona, neste momento, estudos sobre a estrutura de cargos e carreiras, exigindo planejamento de longo prazo. Afinal, ensinar é só o começo — a meta é transformar.
Secretaria da Presidência (SPr)
Comunicação que transforma
Nenhuma grande mudança acontece sozinha — e no projeto de implantação do eproc, a comunicação foi peça-chave para que tudo fluísse com clareza. Na SPr, a Diretoria de Comunicação Social formou um time de projetos com dedicação prioritária. Jornalistas e designers atuaram na elaboração de um plano de comunicação, com campanhas, reportagens, vídeos e atualizações constantes no site, tudo para informar com transparência, orientar os usuários e tornar a transição mais leve para todos os públicos envolvidos.
Entre os destaques dessa equipe está Lucas Farias, servidor do TJSP desde 2019 e responsável pela estratégia de comunicação visual do eproc. Com sensibilidade e criatividade, traduziu em formas e cores a mudança que o novo sistema representa. “O desafio foi elaborar uma identidade visual que transmitisse o impacto da transformação cultural. Pra isso, utilizamos cores contrastantes e vivas, remontando à ousadia do avanço tecnológico”, conta. A SPr também apoiou diretamente os juízes assessores da Presidência nas demandas do projeto e na organização dos encontros nacionais do eproc que ocorreram em São Paulo. Essa atuação mostra que, em tempos de mudança, comunicar bem é tão essencial quanto inovar.
Secretaria da Primeira Instância (SPI)
Quando o sistema encontra a prática
O servidor Jean Carlos Soares de Souza ingressou no TJSP em 2010, quando o eproc tinha apenas um ano de funcionamento no seu tribunal de origem, o TRF-4. Após mais de uma década, as histórias se cruzaram: o supervisor do Serviço de Atualização de Cálculos Judiciais, da SPI, liderou frente de trabalho encarregada da adaptação do módulo de custas à realidade do Judiciário paulista. “Nós mapeamos os procedimentos até então adotados e comparamos com o modelo do eproc, realizando os ajustes necessários para adequá-lo à nossa legislação. Foi uma tarefa árdua, e ainda continuamos em busca de melhorias”, diz.
Coube à SPI a identificação dos impactos do eproc nas mais diversas rotinas cartorárias, bem como nos aspectos operacionais do sistema – incluindo as adequações que viabilizaram a implementação do sistema na Central de Mandados. O setor também teve contribuição na produção de novos modelos de documentos e auxiliou na elaboração de materiais de capacitação.
Secretaria Judiciária (SJ)
Preparando o futuro no 2º Grau
Embora o eproc ainda não tenha sido implantado no 2º Grau, a SJ vem atuando desde o princípio. Diretor de Governança e Organização de Procedimentos e servidor da Justiça paulista há 15 anos, Danilo Maschio Cardone acumulou vivência tanto na rotina de gabinetes quanto de cartórios e já havia participado de grupos de trabalho para propostas de melhorias no sistema anterior. Hoje, desempenha papel similar no eproc: representou o setor em comitivas que visitaram o Tribunal de Justiça de Santa Catarina e, desde o primeiro contato com o sistema, mostrou-se otimista com a mudança. “Tentei retransmitir para os demais colegas e magistrados o sentimento que tive de que, com o eproc, há uma considerável melhoria no dia a dia de trabalho, em razão das inúmeras possibilidades de automação”.
A partir de um estudo aprofundado sobre o sistema em Santa Catarina, o trabalho de Danilo Cardone e da SJ se pautou em três frentes: levantamento detalhado sobre fluxos de trabalho e normativos, com identificação de pontos de atenção para adequações; apoio a magistrados e servidores do 2º Grau, sobretudo das rotinas de trabalho; e análise de dados processuais registrados no SAJ e sua correspondência com o eproc, para fins de migração.
Secretaria de Administração e Abastecimento (SAAB)
Rapidez e responsabilidade
Por trás da implantação do eproc no TJSP, há um trabalho silencioso, mas fundamental. A Secretaria de Administração e Abastecimento (Saab) teve papel decisivo para que as engrenagens do novo sistema começassem a girar. “Temos, em média, 70 minutas de contratos e aditivos por mês, mas o eproc recebeu prioridade máxima”, afirma Alian Labate Salas, diretora de Contratos Administrativos e Convênios, à frente de uma equipe de 45 servidores. Com 32 anos de trajetória no Tribunal — 11 deles dedicados à Saab —, ela acompanhou de perto a elaboração de convênios (incluindo a cessão do sistema pelo TRF-4), licitações e contratos que viabilizaram a implantação.
A experiência acumulada e o planejamento rigoroso fizeram diferença em um momento que exigia celeridade, sem abrir mão da segurança jurídica. Reuniões semanais com diversas secretarias garantiram alinhamento, permitindo que cada etapa fosse concluída em tempo recorde, mas com atenção a todos os detalhes técnicos. “O objetivo do TJ com a transição dos sistemas é melhorar a prestação jurisdicional e nosso trabalho, aqui na Saab, é fazer acontecer”, destaca.
Secretaria de Orçamento e Finanças (SOF)
Alinhamento de números e normas fiscais
A contadora judiciária Fabiane Scherer entrou no TJSP em 2023, após mais de duas décadas no setor privado. Graduada em Administração e Ciências Contábeis, acumulou experiências em áreas como planejamento financeiro e comercial e controladoria, mas o nome eproc sempre foi familiar. “Como gaúcha, já conhecia a reputação do sistema pela sua intuitividade e agilidade, por colegas da área jurídica do Rio Grande do Sul.” Atuando na Seção de Governança da Secretaria de Orçamento e Finanças (SOF), ela foi uma das responsáveis por garantir o correto ressarcimento de diligências aos oficiais de Justiça, em virtude dos novos fluxos de trabalho implementados pelo sistema, além de auxiliar na preparação do SAJ para a adequada recepção dos mandados cumpridos no eproc – missão que recebeu com entusiasmo. “Pra mim, é um verdadeiro presente fazer parte dessa mudança de cultura. Além do conhecimento que adquiri e dos excelentes profissionais que tive a oportunidade de conhecer, a visibilidade proporcionada por este projeto é valiosa.”
A participação da SOF na implementação é ampla. A secretaria direcionou todo seu conhecimento técnico especializado em aspectos financeiros e contábeis para assegurar a conformidade das mudanças propostas pelo novo sistema com as normas e leis fiscais, garantindo que todas as transações estivessem alinhadas com as regulamentações vigentes.
Secretaria da Magistratura (Sema)
Mapeamento de comarcas e magistrados
A Secretaria da Magistratura (Sema) teve uma atuação pontual, mas de suma importância em uma das etapas mais delicadas da implementação: a elaboração do cronograma. A partir de dados referentes à organização judiciária do estado, fornecidos pela Sema, foi possível pensar em um fluxo de implementação adequado para as Regiões Administrativas Judiciárias e competências, em especial no mapemento das comarcas que contam com varas do JEC e, onde não há, quais unidades são responsáveis pelo processamento dos feitos dessa natureza. Também partiu da secretaria a identificação dos magistrados que atuam no sistema dos juizados e do Colégio Recursal, resultando na convocação para o curso de capacitação do eproc.
Todo esse trabalho contou com a liderança de Vanessa Cristina Miguel Andriassa Dias, diretora da Magistratura. Há 20 anos no TJSP – 16 deles na Sema –, ela contribuiu com um vasto conhecimento sobre a organização das 320 comarcas que compõem o Judiciário. “Ainda que a participação da nossa secretaria tenha sido bastante singela, é muito satisfatório saber que nosso trabalho contribui para essa transformação pela qual o Tribunal de Justiça está passando.”
Vice-Presidência
Proatividade e preparação para o futuro
Na Vice-Presidência – responsável por julgamentos de recursos da área da Infância e da Juventude, Conflitos de Competência e Exceções de Suspeição –, o trabalho de preparação para o eproc já começou, mesmo antes da implantação do sistema no 2º Grau. Representando uma equipe de 14 servidores do setor, Maria Augusta Simão de Oliveira Seraphim é um dos exemplos de como o empenho individual fortalece o coletivo. Formada em Direito, ela ingressou no Tribunal em 2013, assumindo a supervisão de Apoio Técnico em 2022.
Dedicada, Maria Augusta não perdeu tempo quando soube da transição de sistemas e do programa Multiplicadores: já fez todos os cursos disponíveis e, no ano passado, participou de testes em um protótipo do sistema. Seu objetivo: dominar antecipadamente as funcionalidades, explorar ao máximo as potencialidades e compartilhar os conhecimentos adquiridos para que sua unidade aproveite plenamente os benefícios da inovação. Para ela, a mudança conferirá agilidade à prestação jurisdicional, eliminando etapas burocráticas do processo, permitindo que os servidores se concentrem em atividades mais técnicas. "É um orgulho colaborar com um projeto que moderniza o maior tribunal da América Latina. Me sinto honrada e animada com o que vem por aí", afirma.
Corregedoria Geral da Justiça (CGJ)
Acompanhamento de perto
A coordenadora de Apoio Técnico Judicial (GTJUD-3), Patricia Sanchez, carrega consigo uma bagagem de 26 anos de compreensão das rotinas cartorárias e administrativas, uma trajetória que começou no Juizado Especial – assim como o eproc. Hoje, a servidora integra equipes da Corregedoria que fazem visitas presenciais aos juizados. “Estamos presentes para verificar o desenvolvimento do fluxo de trabalho, colher impressões dos servidores e contribuir com sugestões para o aperfeiçoamento das rotinas no eproc, sempre com o objetivo de assegurar uma implantação adequada à realidade de cada local. Participar efetivamente dessa mudança tem sido uma experiência desafiadora, porém encaro como uma oportunidade de renovação e de aprendizado”, aponta.
A Corregedoria Geral da Justiça acompanha o projeto desde a adesão e, a partir da implementação, vêm atuando junto às unidades para garantir uma implantação eficaz em todo o estado. Durante correições e visitas, a CGJ tem identificado pontos de atenção para ajustes em outras comarcas, acompanhando, na prática, a construção de localizadores e definição das regras de automação do sistema, por exemplo.
Unidades judiciais
Onde a transformação acontece
Se o eproc é uma mudança, quem a faz acontecer são as pessoas — e o coração dessa transformação bate nas unidades judiciais. A coordenadora da Unidade de Processamento Judicial (UPJ) dos Juizados Especiais Cíveis de Campinas, Natália Lopes Reato, representa, aqui, milhares de servidores e magistrados que enfrentam desafios diários e tornam a virada de sistemas possível. Com 20 anos de TJSP, ela viu de perto as transformações do Judiciário: dos autos em papel e filas enormes no balcão à praticidade do processo digital. Agora, vive com entusiasmo a chegada do eproc.
Natália conhece bem as fases de uma mudança. “As dificuldades iniciais são naturais. Estamos explorando o sistema, entendendo suas possibilidades, ajustando rotinas, mas muito animados com tudo que ele pode nos proporcionar”, conta. Ela destaca sua satisfação por trabalhar nos Juizados, competência que integra o primeiro ciclo de implementação do eproc. “Aqui, sentimos de perto a Justiça acontecendo. Por ter um rito mais simples e rápido, conseguimos ver o direito sendo entregue às pessoas. É gratificante.” Como ela, tantos outros profissionais estão construindo, passo a passo, uma Justiça mais moderna, acessível e conectada com a sociedade.
*N.R.: Texto originalmente publicado no DJE de 30/4/25
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