Todos os caminhos levam ao Tatuapé

Boa qualidade de vida e fácil acesso ao bairro seduzem servidores que desejam trabalhar no fórum

        De localização privilegiada, próximo ao metrô Carrão, da Radial Leste, da marginal Tietê e do corintiano Parque São Jorge, o fórum do Tatuapé é um chamariz para funcionários – e também juízes – que lá almejam desempenhar suas funções. “Há fila de funcionários que querem trabalhar aqui, e quem está aqui não quer sair”, afirma o administrador predial Marcelo Leme Dantas de Aguiar. O prédio, com amplos corredores e cartórios que ainda comportam a demanda processual crescente, também é um atrativo para os que procuram boa qualidade de vida.

        Mas nem tudo são flores no Foro Regional VIII. “Temos conseguido manter um número adequado de processos em andamento graças ao empenho e dedicação de todos os funcionários”, frisa o juiz Cláudio Pereira França, da 2ª Vara Cível e diretor do fórum. “Eles trabalham além da jornada regular, inclusive para compensar a baixa de servidores decorrente de aposentadorias e afastamento por problemas de saúde. Quem fica se desdobra.”

        A jurisdição do fórum abrange uma região populosa, composta por bairros como Vila Carrão, Parque Novo Mundo, Vila Formosa e Água Rasa. A expansão imobiliária é outro fator que pressiona para cima a quantidade de feitos. Em abril, mais de 45 mil processos estavam em andamento no fórum. Para compensar em parte o trabalho extra dos funcionários, o foco do magistrado tem sido na segurança e no bem-estar deles e dos jurisdicionados. Está em fase final projeto para implantação de um consultório dental – um ambulatório médico já funciona no prédio.

        Números – Com cinco varas cíveis, uma criminal, três da Família e das Sucessões, uma da Infância e Juventude e um Juizado Especial Cível, o fórum do Tatuapé está instalado numa área de mais de 10 mil m², onde funcionava fábrica da United Shoe Machinery do Brasil, abandonada havia décadas. Cerca de 800 servidores trabalham no local, e 1.200 pessoas, em média, transitam nas dependências do edifício em dias úteis.

 


Culto à memória

        “Este é um solo sagrado. O senhor já está abençoado”, avisa o juiz Luis Fernando Nardelli ao se adentrar a 3ª Vara Cível do Foro Regional do Tatuapé. Atuando no bairro desde 1995, quando tinha 29 anos, o magistrado é um depositário das memórias do fórum. “O endereço anterior era a avenida Talma de Oliveira, no antigo prédio do consórcio Almeida Prado. Lá havia constantes enchentes. Em janeiro de 1997 ficamos rodeados pelas águas do Tietê e tivemos de pernoitar no edifício. Só chegavam barcos dos bombeiros”, conta. “Isso foi a gota d’água para que procurássemos um novo prédio.”

        O culto à lembrança está presente em cada canto da sala do magistrado. Em sua mesa encontram-se duas sinetas antigas, um martelinho e uma réplica pequena de palha de baobá, árvore imortalizada na obra “O Pequeno Príncipe”. Destaque também para um relógio de parede vindo de Paris, um grande vaso de lírio-da-paz e uma chapeleira que ostenta um chapéu-coco, um chapéu do Tirol – ambos autênticos – e algumas bengalas, entre elas uma colorida, originária da tribo masai, do Quênia. Os móveis são antigos, entre eles a “cadeira da verdade”, que pertenceu ao avô de Nardelli. “Que testemunha teria a ousadia de mentir sentada nessa cadeira?”, indaga, em tom bem-humorado. “Talvez eu seja o único juiz da capital que mantém o mobiliário antigo. Mantive os móveis originais porque acho que é uma tradição que tem de ser mantida.”

        O magistrado relata uma história que revela um pouco de seu gosto pelo que é antigo. Certa vez um vendedor ofertou a ele um software jurídico, mas Nardelli recusou, afinal ele conta com seu Código de Processo Civil de 1985, do primeiro ano da faculdade de Direito, repleto de anotações e atualizações do começo ao fim. Eles propuseram um desafio: quem acessaria mais rápido um artigo do CPC. E o vencedor foi... o juiz Nardelli, claro. “O vendedor ficou chateado.” Ainda há coisas que a tecnologia não consegue ultrapassar.

 


        NR: Texto originalmente publicado no DJE de 12/6/13                        

        Comunicação Social TJSP – MR (texto) / GD (fotos) 
        imprensatj@tjsp.jus.br

COMUNICAÇÃO SOCIAL

NotíciasTJSP

Cadastre-se e receba notícias do TJSP por e-mail



O Tribunal de Justiça de São Paulo utiliza cookies, armazenados apenas em caráter temporário, a fim de obter estatísticas para aprimorar a experiência do usuário. A navegação no portal implica concordância com esse procedimento, em linha com a Política de Privacidade e Proteção de Dados Pessoais do TJSP